A teologia católica oferece uma visão rica e profunda sobre a relação do ser humano com o clima e com o planeta Terra, fundamentada tanto na Sagrada Escritura quanto no ensinamento do Magistério da Igreja, especialmente no Catecismo da Igreja Católica (CIC) e em documentos recentes como a encíclica Laudato Si’ do Papa Francisco.
1. A Criação como dom de Deus
A teologia católica afirma que o mundo criado é obra de Deus e expressão de Seu amor:
“No princípio, Deus criou o céu e a terra” (Gênesis 1,1).
Toda a criação é boa e reflete a glória de Deus (cf. Gn 1,31; Sl 19,1). O ser humano, criado à imagem e semelhança de Deus (Gn 1,26-27), é chamado a viver em comunhão com o Criador e a cuidar de sua criação.
O Catecismo diz:
“A criação tem sua bondade e perfeição próprias. [...] Deus quis a diversidade de suas criaturas e a sua própria bondade, interdependência e ordem” (CIC 339).
2. O homem como guardião da criação
Deus confiou ao homem a missão de “dominar” e “cultivar e guardar” a terra (Gn 1,28; 2,15). Isso não significa exploração desenfreada, mas uma responsabilidade cuidadosa:
“O domínio concedido pelo Criador ao homem não é absoluto, nem se pode falar de liberdade de ‘usar e abusar’, ou de dispor das coisas como convier” (CIC 373).
Essa missão implica responsabilidade moral diante de Deus, das futuras gerações e das demais criaturas. O Papa Francisco afirma:
“Somos chamados a ser os instrumentos de Deus Pai para que o nosso planeta seja o que Ele sonhou ao criá-lo” (Laudato Si’, 53).
3. O pecado e suas consequências ecológicas
O pecado original desordenou não apenas a relação do homem com Deus, mas também com a criação. O Catecismo reconhece que:
“A harmonia em que viviam, graças à justiça original, é destruída; o domínio das faculdades espirituais da alma sobre o corpo é rompido; a união entre o homem e a mulher é submetida a tensões; suas relações serão marcadas pela concupiscência e pela dominação. A criação visível tornou-se estranha e hostil para o homem” (CIC 400).
Assim, as consequências do pecado incluem desequilíbrios ambientais, sociais e espirituais, que se manifestam hoje na crise ecológica e climática.
4. Conversão ecológica e justiça climática
O Papa São João Paulo II já falava da necessidade de uma “conversão ecológica”. O Papa Francisco aprofunda esse chamado:
“Os desequilíbrios ecológicos e sociais têm as mesmas raízes: a arrogância de se colocar no lugar de Deus, acreditando-se no direito de dominar a Terra sem limites” (Laudato Si’, 117).
A crise climática é vista como uma questão moral e de justiça social, pois afeta desproporcionalmente os pobres e vulneráveis. A fé exige uma resposta concreta:
“Viver a vocação de ser protetores da obra de Deus é parte essencial de uma existência virtuosa” (Laudato Si’, 217).
5. Esperança e redenção da criação
A criação não está abandonada, mas caminha rumo à redenção final:
“A própria criação será libertada da escravidão da corrupção, para entrar na liberdade da glória dos filhos de Deus. [...] Toda a criação geme e sofre dores de parto até agora” (Romanos 8,21-22).
Essa expectativa escatológica não leva à passividade, mas ao cuidado diligente, pois esperamos “um novo céu e uma nova terra” (Ap 21,1), que começam a ser preparados já neste mundo.
O cuidado com o clima e com o planeta não é uma questão secundária, mas parte essencial do discipulado cristão. Trata-se de um ato de fé, justiça, esperança e amor.